Embrulhado neste corpo irreconhecível

Encontro-me no meu Eu.

Mas supresa! Logo aparece outro invisível

E um terceiro que se ri, e um quarto que já se perdeu.

 

A esta amalgáma dou a minha vida

E à voz que grita mais alto obedeço.

Paro. Ólho. E vejo. Eis a minha alma, a voz mais querida:

Porque apareces tão pouco? A tua presença agradeço.

 

“Com quem falas?” A alma questiona por sua vez

Com o verdadeiro Eu! Ou melhor, o verdadeiro Nós!

Silêncio. Era apenas outra voz. Mais uma vez estou a sós.

E assim surgiu a revelação – És tu que me lês!

 

“Mas meu caro, eu não sou tu, apenas escrevo por ti”

Que absurdo! Somos um e o outro. Escritor e leitor

“Mas quem somos afinal?” escrevo. Somos tudo e todos respondi.

Pois o Mundo assim se fez – não há criador sem observador.